sexta-feira, agosto 17, 2007

A una nariz

Érase un hombre a una nariz pegado,
érase una nariz superlativa,
érase una nariz sayón y escriba,
érase un peje espada muy barbado.

Era un reloj de sol mal encarado,
érase una alquitara pensativa,
érase un elefante boca arriba,
era Ovidio Nasón más narizado.

Érase un espolón de una galera,
érase una pirámide de Egipto,
las doce Tribus de narices era.

Érase un naricísimo infinito,
muchísimo nariz, nariz tan fiera
que en la cara de Anás fuera delito.


Francisco de Quevedo

Sempre achei piada a este poema, por ser tão terrivelmente mordaz. Quevedo foi um escritor da época dourada da poesia espanhola (Siglo de Oro), por volta do século XVI, e tinha uma inimizade imensa com outro escritor da época, Luís de Góngora (que tb tem uns poemas lindos q a seu tempo mostrarei... ). E como se odiavam figadalmente, escreviam uns mimos destes um para o outro!

Neste poema Quevedo faz uma sátira ao nariz de Góngora pq naquela altura dizia-se que os judeus (e Góngora era judeu) tinham como traço caracterísitico um nariz grande! Mas isto era só a missa a metade acerca das disputas destes 2!

Naquela época a malta sabia como insultar alguém com muita classe! ;D

1 comentário:

ruialme disse...

Olá Sandra,
existe uma tradução desse poema (aliás, de uma variante, pois há vários versos q não correspondem) feita pelo grande poeta e grande divulgador da poesia espanhola entre nós, José Bento.
Aqui vai:

A UM HOMEM COM UM GRANDE NARIZ

Um homem era a um nariz pegado,
era esse um tal nariz superlativo,
era esse um alambique meio vivo,
era esse um peixe-espada mal barbado;

um relógio de sol mal encarado,
elefante de tromba em pé, lascivo,
nariz algoz e escriba, punitivo,
um Ovídio Nasão mal narigado.

Era esse o esporão de uma galera,
era esse uma pirâmide do Egipto,
as doze tribos de narizes era;

era esse um narizíssimo infinito,
frisão arquinariz, caraça em cera,
inchaço garrafal, violáceo e frito.

(in Antologia da Poesia Espanhola do Siglo de Oro - segundo volume (Barroco), Assírio & Alvim, 1996)

Fico à espera dos do Góngora.