segunda-feira, março 31, 2008

Águas de Marco

"É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
(...)
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho"

Tom Jobim

É assim a vida, às vezes chegamos ao fim de um caminho, ao fim de uma etapa e às vezes ela é tao dolorosa como um espinho na mao ou um corte no pé... Às vezes parece que nao há como atravessar o rio imenso que se depara à nossa frente, mas eventualmente avistamos uma ponte... E ao cruzá-la, deixamos para trás aquele pedaco de caminho... Bom ou mau, já está feito, já teve o seu tempo e o seu espaco na nossa vida...
É como as águas de Marco, que caem pelo teu rosto e fecham o verao... Mas haverá mais veroes e mais sorrisos e este é o primeiro dia do resto da tua vida, é a promessa de vida nova no teu coracao...

segunda-feira, março 17, 2008

Às cores..

Há dias mesmo complicados... Dias em que parece que se nos tolda a vista de um cinzento espesso difícil de dissipar... Dias em que duvidamos de nós mesmos e das nossas capacidades, do rumo que escolhemos tomar... Dias em que nos sentimos uma fraude, a tentar convencer o mundo e nós mesmos que sabemos para onde vamos...
Bem sei que a estrada às vezes anda em círculos ou tem curvas complicadas, e que algures mais à frente haverá rectas a perder de vista, ladeadas por árvores de fruto... Mas nao posso deixar de me queixar quando a estrada parece escura e sombria, quando nos assola o sentimento de que deveríamos voltar para trás porque afinal virámos na bifurcacao errada algures lá atrás... E que isso nos está a fazer perder tempo precioso para chegar a algum lado...
Chegar... Parece que é sempre o nosso objectivo, chegar a algum lado... Temos pressa de partir porque temos pressa de chegar... Mas eu sei que no fim, naturalmente a viagem será muito mais importante que o destino, mas também sei que só mais tarde poderemos vê-lo claramente...
Até lá, só vemos o destino, a cores ou a cinzento espesso, dependendo dos dias...

sexta-feira, março 14, 2008

Filosofias...

Nao tinha nada para fazer (como é, infelizmente, costumeiro durante a minha estadia aqui em Berlim..) e decidi ler os posts antigos deste meu blog que entretanto deixei ao abandono.
E cheguei à brilhante conclusao que escrevo muito melhor e sou muito mais inspirada quando estou deprimida! É triste chegar a esta conclusao e verificar que os nossos momentos de maior clarividência foram aqueles em que nos sentimos mais tristes ou mais magoados bem cá dentro...
É quase como se tivéssemos um mecanismo interno de compensacao que nos faz ver o mundo de outra forma quando estamos em baixo... Pensando bem, até faz sentido, vemo-lo de outra perspectiva... de baixo...
Quando estamos bem e equilibrados, parece que esta terapia que é escrever para ninguém, perde um pouco o seu sentido... Ou entao comecamos a falar de coisas banais e corriqueiras, o que comemos ontem, a exposicao maravilhosa que fomos visitar, as viagens que fizemos...
Mas a verdadeira reflexao sobre quem somos, o que queremos e para onde vamos, só é possível quando nos vemos confrontados com a desgraca ou a tristeza... Quando somos obrigados a tomar decisoes ou, por outro lado, a aceitar aquelas que os outros ou o destino fizeram por nós... Aí, Deus ilumina-nos com a sua clarividência e escrevemos coisas bonitas...
Mas será que fazem algum sentido?...